Por Nicolás Misculin
BUENOS AIRES (Reuters) – As esperanças do presidente argentino, Javier Milei, de obter maior controle do Legislativo nas eleições de meio de mandato enfrentam um grande desafio devido à sua determinação de vetar mais verbas para hospitais públicos em dificuldades, mostraram as últimas pesquisas.
Milei tem surfado numa onda de apoio popular depois de domar uma inflação galopante, que deverá cair abaixo de 30% ao ano em 2025, em comparação com os números de três dígitos registrados no passado recente.
Mas seus cortes de gastos públicos estão colocando em risco o futuro do outrora invejável sistema de saúde estatal do país, incluindo sua joia da coroa.
Conhecido por sua experiência de classe mundial em cirurgias e transplantes de órgãos, o hospital infantil Garrahan, em Buenos Aires, tornou-se um campo de batalha simbólico em uma crise cada vez mais grave para os hospitais públicos, com a ira pública alimentada pela redução de pessoal e atrasos no atendimento aos pacientes.
Médicos e outros funcionários do hospital disseram à Reuters que seu poder de compra caiu cerca de 50% desde o final de 2023 — com salários que não acompanham a inflação — e muitos saíram para empregos mais lucrativos no setor privado.
‘Entrar neste hospital era como ser convocado para a seleção nacional de futebol’, disse Santiago Weller, chefe de urologia do Garrahan. ‘Mas a diferença salarial está levando muitas pessoas a sair. As equipes se desfazem e o atendimento de qualidade deixa de ser oferecido.’
O Congresso, controlado pela oposição, votou a favor de um financiamento extra de US$98 milhões por ano para o sistema nacional de saúde pública, mas um porta-voz do governo disse que Milei vetará o projeto de lei na próxima semana, em linha com sua promessa de vetar qualquer projeto que possa afetar o equilíbrio fiscal.
Pesquisas recentes indicam que tal medida poderia arriscar a capacidade de Milei de consolidar o poder na votação crucial de meio de mandato de 26 de outubro, que poderia fazer ou desfazer sua agenda pró-mercado.
Uma pesquisa da Universidade de San Andrés, publicada em julho, mostra que as políticas de saúde do governo federal estão no topo da lista de reclamações dos argentinos sobre as políticas de Milei, com 53% dos entrevistados descrevendo-se como ‘muito insatisfeitos’, superando suas preocupações sobre nove outras questões importantes.
Os argentinos elegerão metade das cadeiras na câmara baixa do Congresso e um terço das vagas do Senado em outubro, uma oportunidade para Milei expandir a base de seu governo da atual minoria. Um bloco maior no Congresso lhe daria mais liberdade para bloquear mais facilmente as medidas da oposição que buscam derrubar suas reformas destinadas a conquistar a confiança dos investidores e liberalizar o comércio.
Os investidores — que têm apostado timidamente em uma economia que já foi vista como um pária internacional — estarão observando atentamente se Milei conseguirá apoio político suficiente para levar adiante suas políticas.
As eleições de meio de mandato serão precedidas por eleições locais na província de Buenos Aires em 7 de setembro, tradicionalmente dominadas pela oposição peronista. Na quarta-feira, a equipe de segurança de Milei o retirou às pressas de uma carreata depois que manifestantes atiraram pedras em seu veículo.
Milei, que assumiu o poder no final de 2023, tem desfrutado de índices de aprovação geralmente altos, mas há sinais de que isso pode estar diminuindo.
Um índice regular da Universidade Torcuato Di Tella, divulgado esta semana, mostrou uma queda de 13,6% na confiança no governo este mês em comparação com julho.
Cerca de 68% dos argentinos se opõem ao plano de Milei de vetar o aumento do financiamento da saúde pública, de acordo com uma pesquisa realizada em agosto pela empresa de consultoria Synopsis. Lucas Romero, diretor da Synopsis, disse que Milei estava ‘pagando um preço’ pelo veto no tribunal da opinião pública.
Quase 80% dos 2.000 argentinos entrevistados pela Zuban Cordoba, outra empresa de pesquisas, disseram este mês que simpatizavam com os funcionários do Garrahan e suas reivindicações por melhores salários e condições, incluindo 60% dos apoiadores de Milei.
Fonte: antena1