Meu pai tinha 35 anos quando perdeu um grande amor – minha mãe – e se viu viúvo, sem chão e com dois filhos pequenos: eu tinha 5 anos e meu irmão, 3. Aos 35, ele teve que lidar com a dor da ausência da mulher que amava há 18 anos – sim, eles ficaram 18 anos juntos – e, ao mesmo tempo, se fazer presente e ressignificar o amor para essas duas crianças que ficaram aqui com ele. Meu pai, Sr. Carlos, é uma das pessoas mais amorosas que conheço e, se hoje sou uma pessoa que acredita no poder transformador do amor, foi porque, desde sempre, esse pai escolheu que era através do amor que a gente ia se conectar. Um amor que existe apesar das saudades, da falta, das nossas diferenças, teimosias, preocupações. Sim, me faltou uma mãe. Mas o que eu aprendi sobre amor com meu pai – observando sua história e sendo parte dela – me faz ter o coração tranquilo em dizer que não me faltou amor. Ou melhor, que desde pequena entendi que não existe amor sem falta, mas que cabe a nós escolher se vamos fazer da falta um abismo ou um relicário que honra nossa impermanência, nossa incompletude, nossa incompreensão absoluta e, ainda assim, nossa escolha pela fé no amor e na reconstrução dos vínculos de afeto (mesmo que de maneiras menos “comercial de margarina” – afinal, na nossa família já estaríamos descartados do casting, né? Faltava a mocinha… eram os anos 80 rs…).