Data centers, inteligência artificial e o desafio da sustentabilidade hídrica 

Colunas e BlogsData centers, inteligência artificial e o desafio da sustentabilidade hídrica 

Com o crescimento exponencial do uso da inteligência artificial (IA), os data centers — estruturas responsáveis por armazenar, processar e distribuir dados digitais — tornaram-se peças-chave na arquitetura tecnológica global.

No entanto, esse avanço, celebrado por suas inovações, impõe uma preocupação crescente: o uso intensivo de recursos hídricos. Em um cenário de crise climática e escassez de água em várias regiões do planeta, o desafio de tornar sustentável o consumo hídrico dessas estruturas se tornou um imperativo ético, ambiental e jurídico.

Estudos recentes revelam que data centers utilizam grandes volumes de água para refrigeração de servidores, especialmente em regiões onde o clima exige controle rigoroso de temperatura. Estima-se que grandes centros de processamento de IA possam consumir milhões de litros de água por dia. Essa realidade entra em colisão direta com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), notadamente o ODS 6, que visa garantir a disponibilidade e gestão sustentável da água para todos.

Do ponto de vista jurídico, a questão exige uma nova regulação voltada à responsabilidade socioambiental das big techs. A legislação ambiental ainda carece de mecanismos eficazes para mensurar e mitigar os impactos hídricos desses empreendimentos digitais. Não se trata apenas de medir o volume consumido, mas de internalizar o custo ambiental e social da operação digital em larga escala. Além disso, há um desafio geopolítico: data centers localizam-se, muitas vezes, em países do Sul Global, onde as regras ambientais são mais frágeis e os recursos naturais mais vulneráveis.

Isso levanta uma importante discussão sobre justiça ambiental e transferência de responsabilidades, pois os dados beneficiam conglomerados do Norte Global, enquanto os impactos ambientais recaem sobre populações já pressionadas por desigualdades. Soluções existem, mas demandam vontade política, inovação regulatória e pressão social.

Tecnologias de refrigeração a seco, reaproveitamento de água, realocação para áreas com maior disponibilidade hídrica e transparência sobre o consumo são apenas algumas alternativas. O Brasil, por exemplo, como país megadiverso e com vastos aquíferos, precisa estar atento para não transformar seu patrimônio hídrico em insumo barato para operações que não retornam benefícios sociais proporcionais.

O futuro da inteligência artificial será tão promissor quanto forem os parâmetros éticos e sustentáveis que orientarem seu uso. A água, fonte de vida, não pode ser o custo oculto da revolução digital. 

Prof. Dr. Vladmir Oliveira da Silveira
Prof. Dr. Vladmir Oliveira da Silveira
Professor Titular de Direito da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), professor de Direito da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), sócio da Advocacia Ubirajara Silveira (AUS).

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui
8 * 4 = ?
Reload

This CAPTCHA helps ensure that you are human. Please enter the requested characters.

Novidades

Havan lança coleção de moda outono inverno em evento exclusivo com influenciadoras

A Havan lança, nesta quinta-feira, 3, a coleção Moda Havan Outono Inverno 2025. Para celebrar a novidade, 14 influenciadoras digitais participaram de...

Saiba como fica o tempo no outono

O outono começou às 6h01 desta quinta-feira (20) e se estenderá até as 23h42 do dia 20 de junho. Como uma estação de transição...

DNA EAD – Entre Conquistas e Retrocessos: Uma Análise da Educação a Distância

A Educação à Distância (EaD) trouxe uma mudança importante no acesso ao ensino superior brasileiro nos últimos 20 anos.Enquanto a universidade era um privilégio...

Onde comer às terças-feiras em SP?

Veja também: onde experimentar mexilhões?E se quiser se aventurar em novos sabores, SP oferece uma gama de opções com mexilhões para você apreciar ingredientes...

Streaming domina o mercado musical, mas não representa venda de ingressos

O streaming é, sem dúvidas, a maior revolução do mercado musical Nas últimas décadas. Serviços como Spotify, Apple Music e Deezer dominaram o consumo global de música, tornando-se responsáveis por mais de 65% da receita da indústria fonográfica mundial