Em uma São Paulo onde novos restaurantes brotam a cada esquina, o Cantaloup mostra que ainda tem muito fôlego. Prestes a completar três décadas de história, a casa no Itaim Bibi acaba de renovar seu cardápio, sem abrir mão da sua essência: um equilíbrio entre a tradição e a ousadia — com preços que refletem a proposta e o endereço da casa “trintona”.

Cantaloup agora serve tagliatelle com camarão, lula e polvo Foto: Ricardo D’Angelo/Divulgação
Sob o comando de Daniel Sahagoff e Jorge Luiz de Moraes Dantas, e com o chef Valdir Oliveira à frente da cozinha, o Cantaloup apresenta novas criações que falam de técnica e sofisticação. Entre as novas entradas da casa, a burrata com rúcula selvagem ao pesto de pistache (R$ 122) é um convite ao frescor, enquanto o ceviche de vieiras com caju e quinoa crocante (R$ 173) entrega textura e acidez na medida certa. Os risotos e massas também ganham espaço: destaque para o risoto de cogumelos com trufas negras (R$ 127) e o tagliatelle com frutos do mar (R$ 165), pratos que confortam sem perder a elegância.
Os 30 anos do Cantaloup
O novo cardápio chega num momento especial: em 2026, o Cantaloup comemora 30 anos — um feito e tanto numa cidade onde restaurantes abrem e fecham em questão de meses. Desde 1996, quando inaugurou suas portas, o restaurante acompanhou a evolução da gastronomia paulistana, que se expandia além dos italianos tradicionais e churrascarias.

O restaurante Cantaloup Foto: Tadeu Brunelli|Estadão
Renovar sem se descaracterizar é o desafio, como explica Sahagoff em uma entrevista franca ao Paladar. “Buscamos o equilíbrio entre pratos que surpreendem e aqueles que trazem o conforto que nossos clientes esperam”, diz o restaurateur. Afinal, agradar tanto os frequentadores fiéis quanto atrair novos paladares é tarefa complicada e para poucos.
O momento também pede resiliência. Com o aumento dos custos de insumos e mão de obra, os valores no cardápio refletem essa pressão, mesmo que alguns pratos tenham os preços nas alturas (e um pouco exagerados). Um corte de chorizo de black angus sai por R$ 214, enquanto o clássico bife Wellington, deliciosamente suculento e envolto em massa folhada crocante, custa R$ 221 — saboroso, mas que deixa um gosto amargo no bolso.

Filet Wellington do Cantaloup: delicioso na boca, amargo no bolso Foto: Ricardo D’Angelo/Divulgação
Ainda assim, a aposta em ingredientes nobres e técnicas refinadas reafirma o posicionamento do Cantaloup em meio à concorrência cada vez mais acirrada não só em São Paulo, mas principalmente no entorno da casa. O Itaim Bibi, afinal, se consolidou como um dos corações gastronômicos da cidade ao lado de bairros como Pinheiros e Jardins.
Para a celebração de três décadas, os planos incluem um menu comemorativo com releituras de pratos históricos, jantares com chefs convidados e uma programação especial para 2026. Por ora, Sahagoff faz mistério sobre outras possíveis novidades no espaço.
O Cantaloup viu de perto a transformação do cenário gastronômico da cidade: a explosão dos japoneses, o boom mediterrâneo, a febre dos chefs-celebridades, a redescoberta dos ingredientes brasileiros. Sobre o futuro, o restaurateur aposta em uma cozinha “mais consciente e sustentável”, embora sem grandes detalhes sobre como isso se traduzirá.
E assim o Cantaloup continua: enquanto novos restaurantes apostam em propostas despojadas e ambientes descontraídos, o Cantaloup se mantém fiel ao seu estilo. Um salão elegante, com quadros gigantes enfeitando a parede, um serviço formal e uma cozinha que se move entre o clássico e o contemporâneo. Talvez esteja aí o segredo da longevidade: a previsibilidade como forma de acolhimento, em uma São Paulo que muda rápido demais.
