Os bancos de investimentos têm uma máxima: “precificar um IPO é uma arte”. A tarefa consiste em definir um preço que seja bom o suficiente para uma boa captação para a empresa. E não seja tão alto para dar espaço para o papel subir no primeiro dia de negociação.
O caso da Figma é emblemático. Em sua estreia na Bolsa de Nova York, as ações subiram 250%. Um sucesso, certo? Sem dúvida. Mas a alta tão expressiva tem feito profissionais do mercado americano se questionarem se a companhia não deixou muito dinheiro na mesa.
Considerando o preço de fechamento dos papéis, de R$ 115,50, a companhia poderia ter levantado US$ 3 bilhões de dólares em seu IPO. No total, a Figma e os acionistas vendedores captaram US$ 1,2 bilhão. Em resumo, a companhia pode ter deixado US$ 1,8 bilhão na mesa.
A faixa indicativa inicial variava entre US$ 25 e US$ 28, mas foi revisada para US$ 30 a US$ 32 diante do forte interesse de investidores. Ainda assim, o preço final foi fixado em US$ 33, US$ 1 acima do teto da faixa revisada.
De acordo com fontes ouvidas pelo The Wall Street Journal, a empresa optou por priorizar investidores institucionais considerados parceiros de longo prazo. Parte desses fundos, no entanto, se recusou a pagar muito acima da faixa indicada, o que forçou um teto no preço final.
O resultado foi um desequilíbrio, com os bancos coordenadores subestimando a demanda, principalmente de investidores pessoa física, que correram para comprar o papel no dia da estreia.
Fundada em 2012 por Dylan Field e Evan Wallace, a Figma se destacou por criar uma plataforma de design 100% baseada na nuvem, com forte apelo colaborativo — o que a tornou essencial para equipes distribuídas. Com mais de 13 milhões de usuários ativos mensais, a empresa atende desde startups até grandes companhias.
A operação na bolsa veio três anos após a tentativa frustrada de venda para a Adobe por US$ 20 bilhões, barrada por órgãos antitruste. Desde então, a Figma acelerou seu crescimento de forma independente. A receita chegou a US$ 749 milhões em 2024, e no primeiro trimestre de 2025, bateu US$ 228 milhões, com retorno à lucratividade.
A abertura de capital marca um novo capítulo para a companhia. Agora listada sob o ticker FIG, ela deverá reforçar seu posicionamento como peça-chave em design digital e possivelmente explorar aquisições e novas frentes, como inteligência artificial.
Do lado dos investidores, o IPO representou um desfecho (ou um novo ponto de partida) para nomes de peso como Sequoia, Index, Greylock, Andreessen Horowitz e Kleiner Perkins, que investiram ainda nos primeiros anos. A maioria optou por manter suas posições, na expectativa de valorização adicional.
Bônus bilionário
Já Dylan Field, que vendeu US$ 77,6 milhões em ações, permanece com uma participação avaliada em cerca de US$ 6 bilhões, além de um pacote de remuneração que pode render outros US$ 1,9 bilhão se a ação atingir marcos definidos.
Se as ações da Figma se mantiverem acima de US$ 110 por 60 dias consecutivos, o CEO Dylan Field poderá desbloquear 88% do pacote de 14,48 milhões de ações que recebeu como prêmio de performance em junho.
O plano, descrito no 2025 CEO Stock Price Award, prevê o vesting das ações em sete tranches atreladas a metas de preço, calculadas com base na média ponderada dos papéis ao longo de 60 dias.
Ao atingir US$ 110, ele cumpre seis dessas metas e ativa o direito a cerca de 12,76 milhões de ações — o equivalente a US$ 1,4 bilhão (a US$ 110 por ação). A meta para desbloquear a última tranche é de US$ 130 por ação, sendo que a primeira é de US$ 60 por ação.
Para que esse montante seja efetivamente entregue, no entanto, ele também precisa continuar na companhia, já que o plano exige requisitos de permanência no cargo além do desempenho da ação.
A estreia da Figma acompanha o forte ritmo dos IPOs de tecnologia nos Estados Unidos. No segundo trimestre de 2025, o setor de tecnologia, mídia e telecom (TMT) respondeu por 38% das ofertas acima de US$ 500 milhões e por quase metade dos recursos captados no período, segundo relatório da EY
Fonte: Neofeed