A Psicanálise e as limitações da Inteligência Artificial: O desejo, a falta e a singularidade na experiência Humana

Colunas e BlogsA Psicanálise e as limitações da Inteligência Artificial: O desejo, a falta...

A psicanálise requer um entendimento profundo da subjetividade humana, incluindo emoções, traumas e experiências individuais. Habilidades como empatia e intuição são essenciais para o psicanalista, pois ajudam a estabelecer conexões com os pacientes e a interpretar suas complexidades emocionais. A introdução da inteligência artificial (IA) nesse campo levanta questões sobre sua eficácia e ética.

A IA, mesmo avançada, não pode replicar características humanas como arte, criatividade e vivência emocional. Simulações de empatia feitas por sistemas de IA carecem de experiências de vida, impossibilitando uma verdadeira compreensão das emoções humanas. Respostas de IA, embora precisas, não oferecem o apoio emocional necessário para a sustentar um processo analítico. A complexidade da psique humana é difícil de traduzir em dados, e uma abordagem automatizada pode desconsiderar a profundidade das experiências culturais e emocionais.

Isso é especialmente importante em casos de traumas complexos, onde um psicanalista humano pode perceber sutilezas não verbais essenciais para entender o sujeito contemporâneo. A interpretação, fundamental na psicanálise, depende da subjetividade e experiência do analista, enquanto a IA pode oferecer interpretações baseadas em padrões, o que pode comprometer a singularidade da experiência analítica.

A arte, que reflete experiências humanas, não pode ser compreendida por IA, pois esta não vivencia emoções profundas. A improvisação, uma habilidade humana, também escapa da capacidade da IA, já que ela opera com base em dados pré-existentes. Emocionalmente, estados como desejo, sofrimento e gozo são centrais à condição humana, enquanto a IA não tem a capacidade de experimentar dor, prazer ou deslizar entre significantes e significado.

A “falta” é constituinte e permeia a existência, a escuta do inconsciente é algo que a IA não experimenta. As limitações da IA em entender a subjetividade levantam questões éticas sobre seu uso em áreas como educação, psicologia e psicanálise. A dependência de IA pode alienar pessoas de experiências autênticas, já que a IA não possui um referencial ético baseado em vivências.

É importante avaliar criticamente o papel da IA em nossas vidas, lembrando sempre de valorizar as experiências humanas. Embora a IA possa auxiliar em triagens e análises, ela não pode substituir a interação humana que é vital na psicanálise. A autonomia e o autoconhecimento são essenciais para o indivíduo contemporâneo, e confiar excessivamente na IA pode empobrecer essa experiência, reduzindo a singularidade das vivências a padrões gerais.

A relação analítica, baseada em escuta sensível, empatia e confiança, é crucial na psicanálise, e a mediação da IA pode prejudicar essa profundidade. A integração da IA na psicanálise deve ser feita com ética e responsabilidade, reconhecendo suas limitações. A prática psicanalítica é uma experiência humana única, que não pode ser substituída por sistemas automatizados. É fundamental garantir que a individualidade e o contexto emocional do sujeito contemporâneo permaneçam no centro da prática clínica.

Contato: +55 21 99055-6319 Instagram: @rotrapaga

Rosane Trapaga
Rosane Trapaga
Psicanalista Supervisora clínica no Instituto Psicanálise em Movimento Autora do livro Escutas em análise a subjetividade no divã

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Novidades

O papel invisível que sustenta grandes eventos: o Mestre de Cerimônias no centro da experiência

Em meio à explosão do mercado de eventos no Brasil, que movimenta mais de R$ 300 bilhões por ano segundo a ABEOC, cresce também...

Dia Internacional da Consciência foca em paz, tolerância e respeito mútuo

Imagine um mundo onde cada ação seja guiada por amor, um senso claro do certo e do errado e um cuidado genuíno pelas pessoas...

A incidência do itbi na integralização de bens imóveis ao capital social das holdings e o tema 796

Em grande parte das situações as holdings têm seu patrimônio formado por participações societárias e/u outras espécies de bens, especialmente bens imóveis. Isso porque, a conferência de bens imóveis ao capital social de uma holding pode apresentar diversas vantagens, do ponto de vista de proteção patrimonial, planejamento sucessório, redução da carga tributária incidente sobre os rendimentos e sobre a venda, em situações específicas.