Reforçados, acolchoados e com uma tira grossa, os chinelos de espuma têm sido uma constante nos pés dos fashionistas no verão europeu. Embora estejam disponíveis por 30 euros na Adidas ou 3,49 euros na loja online Temu, uma versão de alta costura também circula, mas com preço exorbitante. Tratam-se dos chinelos Ama em preto, vermelho ou branco, que foram lançados pela marca americana The Row, fundada em 2005 pelas irmãs gêmeas Ashley Olsen e Mary-Kate Olsen nesta semana. Custam 600 euros.
Laura Reilly, autora do boletim informativo de moda Magasin, os chamou de “a mais recente isca de raiva da The Row” – como forma de definir postagens online criadas para provocar raiva e se tornarem virais no processo. A versão da moda para atrair a fúria, porém, parece ser a de versões luxuosas de objetos do cotidiano. Ainda não está claro se os criadores desses itens estão provocando uma reação gratuita, mas é certo que os preços andam deixando alguns consumidores furiosos.
Outro item recente da The Row nessa linha, que causou controvérsia: a sandália Dune, também conhecida como chinelo com sola vermelha, que custa 670 euros (eles também vêm com uma sola preta, como usada pelo ator Jonathan Bailey em um evento para promover Jurassic World).
Mas a marca não está sozinha nessa. Itens que provocaram indignação semelhante incluem um colete branco da Loewe por 325 euros e os “tênis sujos” da marca italiana Golden Goose, no valor de 435 euros. A Balenciaga, durante a década em que Demna foi o diretor criativo, também usou e abusou desse recurso: de um Crocs de 720 euros a uma “saia” de toalha de 695 euros, sem contar a versão da bolsa Frakta, da Ikea (aquela que parece de feira) por 1.365 euros.
Mesmo causando espanto e surgir a inevitável pergunta “Por que isso custa tanto?”, o que acontece não raramente com as pessoas a se depararem com obras de arte e itens de luxo, pegar algo comum e colocá-lo em um contexto diferente tem uma tradição nas artes visuais – e que certamente influenciou Demna, em sua época de Balenciaga. Só lembrar, por exemplo do mictório de Marcel Duchamp em 1917, o aspirador de pó de Jeff Koons em 1980 e o interruptor de luz de Martin Creed em 2000, todos itens que provocaram essa mesma fúria do público.
Mas se a arte continua elitista pelo fato de a maioria das pessoas não poder comprá-la, todos usam roupas – então é natural que essa “isca de raiva” funcione mais na moda em que inevitavelmente os consumidores estão mais envolvidos quando itens do dia a dia são vendidos por preços mais altos. Isso há muito tempo cria uma tensão. “Este em particular é brilhante porque nos permite nos ofender, da maneira mais requintada”, disse Dal Chodha, líder do curso de comunicação de moda da Central Saint Martins ao “The Guardian”. “Acho isso um pouco insano”, completa. Realmente é.
Fonte: veja.abril