meu corpo casa é meu primeiro poema. demorei um tempo para me acostumar com ele. compreender que nem sempre estaria confortável comigo mesma, mas que minha pele me convidaria a uma nova chance diariamente. demorei para estar diante do espelho sem desviar. olhar tudo, abarcar os detalhes, abraçar a confusão, falhar e me permitir o recomeço, beijar esse império que eu sou. meu corpo casa sabe nadar, sabe sorrir, sabe curar a si mesmo. tem cicatrizes, tem estrias, tem contornos, tem dimensões, tem texturas, tem consistências, tem ventos em movimento, tem marcas de uma mulher que se encara e se joga, tem afeto em frequência imperfeita e tem continuidade e ancestralidade pulsante. minhas leitoras me perguntam como se autoconhecer e eu digo que não há receita ou fórmula, mas uma bússola que dança com nossas existências reais. é preciso deixar a porta aberta para si mesma, ter coragem para cultivar o amor próprio.