PARQUES URBANOS: BOIS DE BOULOGNE, PARIS

PARQUES URBANOS: BOIS DE BOULOGNE, PARIS

Nosso passeio pelos maiores parques urbanos do mundo chega hoje à Paris. Depois de explorarmos o icônico Central Park, em Nova York (EUA), e o histórico Hyde Park, em Londres (Reino Unido), a caminhada segue agora pelo maravilhoso Bois de Boulogne — o pulmão verde do oeste parisiense.

Um mosaico de lagos, bosques e alamedas que ocupa 846 hectares — área cerca de 2,5 vezes maior que a do Central Park — o Bois de Boulogne é uma síntese do urbanismo francês: natureza cuidadosamente desenhada, interligada por redes de água, trilhas e equipamentos de lazer que se entrelaçam ao tecido da cidade. É o segundo maior parque da capital, ao lado do Bois de Vincennes, e expressa a vocação de Paris para transformar o verde planejado em infraestrutura pública de bem-estar.

De campo de caça a laboratório de urbanismo

A face moderna do Bois de Boulogne nasceu durante o Segundo Império Francês, período de transformações profundas que redesenhou Paris sob o comando de Napoleão III. Inspirado pelos parques londrinos — especialmente o Hyde Park e os Kensington Gardens, que ele conheceu no exílio — o imperador percebeu que o verde público era mais do que um adorno paisagístico: era uma ferramenta de saúde, lazer e ordem social para a nova metrópole industrial que emergia no século XIX.

Em 1852, Napoleão III lançou um vasto programa de parques e jardins, confiando a execução ao seu braço direito, o barão Georges-Eugène Haussmann, que reformaria toda a capital com avenidas largas, bulevares e saneamento moderno. Coube ao engenheiro Adolphe Alphand e ao paisagista Jean-Pierre Barillet-Deschamps transformar o antigo campo de caça real — antes propriedade dos reis da França — em um espaço público que unisse beleza cênica e função urbana.

O projeto seguiu o espírito do romantismo e da ciência da época: um parque que imitava a natureza, mas nascido do cálculo e da engenharia. Lagos interligados por canais artificiais, colinas suaves erguidas com o entulho das escavações da cidade, pontes ornamentais e cascatas alimentadas por um complexo sistema hidráulico criavam a ilusão de um bosque espontâneo. Por trás da aparência bucólica, havia infraestrutura de drenagem, controle hídrico e planejamento de fluxos de pedestres, carruagens e cavaleiros — um verdadeiro laboratório de urbanismo e engenharia ambiental avant-la-lettre.

Essa combinação de técnica e poesia influenciaria profundamente o urbanismo europeu. O modelo parisiense — que conciliava estética paisagística e racionalidade de infraestrutura — tornaria-se referência para parques em toda a Europa e nas Américas, incluindo o Ibirapuera em São Paulo quase um século depois.

O resultado é um espaço que traduz o ideal do século XIX: civilizar a natureza e humanizar a cidade, equilibrando o rigor da geometria com o encantamento das formas naturais.

Água, caminhos e uma paisagem desenhada para fluir

O Bois de Boulogne funciona como uma verdadeira máquina ecológica e social. Seus 14 corpos d’água, que juntos somam cerca de 23 hectares, e os 10 quilômetros de ribeiros artificiais compõem um sistema hidráulico que regula o microclima e oferece uma sensação térmica até 7 °C mais amena do que o centro da cidade em dias de verão. Os lagos — em especial o Lac Supérieur e o Lac Inférieur — comunicam-se por canais sinuosos que distribuem a água e criam perspectivas cinematográficas entre árvores centenárias e pontes ornamentais. Essa rede hídrica é alimentada por um circuito independente de água não potável, responsável também pela irrigação e limpeza, um exemplo pioneiro de gestão ambiental urbana que permanece em operação desde o século XIX.

A malha de circulação foi concebida como um organismo flexível, capaz de abrigar usos diversos sem conflitos de percurso. São 17 quilômetros de vias fechadas ao tráfego, ideais para caminhadas e piqueniques, além de 28 quilômetros de rotas equestres, herança direta da tradição aristocrática francesa de montaria, e 15 quilômetros de ciclovias que hoje conectam o parque a diferentes pontos de Paris. Essa engenharia discreta garante que o visitante encontre sempre um percurso de calma — seja ao passo, ao trote ou ao pedal —, uma “zona de silêncio” em meio ao rumor da cidade.

Mais do que um espaço de lazer, o Bois de Boulogne tornou-se um modelo de infraestrutura verde multifuncional. Ele absorve água da chuva, filtra o ar, abriga fauna e flora variadas e oferece às populações urbanas um contato direto com o que os parisienses chamam de respiração da cidade. Ali, as dimensões física e simbólica se encontram: a natureza é planejada, mas o prazer é espontâneo. E, talvez por isso, cada caminho arborizado funcione como uma pausa — um intervalo entre o concreto e o tempo.

Lazer em família e memória científica: o Jardin d’Acclimatation

Aberto em 1860, o Jardin d’Acclimatation é o parque de lazer mais antigo de Paris, com 18–19 hectares de gramados, brinquedos e atrações — herdeiro direto do espírito científico‑lúdico do Segundo Império. Hoje, mantém o caráter de parque‑escola e faz par com a vizinha Fondation Louis Vuitton, somando natureza, entretenimento e arte em um mesmo eixo.

Arte contemporânea como farol: a Fondation Louis Vuitton

Assinada por Frank Gehry, a Fondation Louis Vuitton abriu ao público em 27 de outubro de 2014 na borda do Jardin d’Acclimatation. O edifício — um “navio” de doze velas de vidro pousado sobre um espelho d’água — tornou‑se ícone de arquitetura do século XXI e adensou a vocação cultural do Bois. No entorno imediato, o visitante encontra cafés, restaurante e programação de exposições e concertos.

Patrimônio botânico e delicadeza: Bagatelle e suas rosas

Crédito da imagem: paris.fr

No coração do bosque, o Parc de Bagatelle guarda o Concurso Internacional de Rosas Novas (desde 1907) e jardins que unem coleções botânicas e desenho paisagístico histórico. É a face contemplativa do Bois: caminhos sinuosos, orangerie, lagos e um calendário floral que espalha perfume no verão.

Esporte e espetáculo: hipódromos e a borda olímpica

O Bois é também um cinturão esportivo. No ParisLongchamp, sede do Prix de l’Arc de Triomphe, as grandes corridas de turf de França atraem público internacional; no Auteuil, os steeplechases (provas com obstáculos) mantêm uma tradição secular. E, nos arredores do bosque, o 16º arrondissement concentra arenas como o Roland‑Garros e o Parc des Princes, desenhando um cluster esportivo raro numa capital densa.

Estufas, educação ambiental e o “verde que pensa”

A face pedagógica do Bois de Boulogne inclui as Serres d’Auteuil — estufas históricas do final do século XIX, construídas em ferro e vidro, que abrigam centenas de espécies tropicais vindas de todos os continentes. No extremo norte, o Domaine de Longchamp, sede da Fondation GoodPlanet criada pelo fotógrafo e ambientalista Yann Arthus-Bertrand, dedica-se à ecologia e à solidariedade, oferecendo oficinas, exposições e experiências imersivas sobre sustentabilidade, consumo consciente e biodiversidade. É o parque como sala de aula a céu aberto, onde ciência e cidadania caminham lado a lado.

Esses espaços educativos reafirmam o caráter contemporâneo do Bois: um território onde o aprendizado não se impõe, mas se descobre. Entre uma trilha e um lago, o visitante encontra mensagens sobre energia limpa, alimentação saudável e respeito ao planeta — um convite para transformar o lazer em consciência ambiental. No Bois de Boulogne, a natureza ensina, e Paris escuta.

Bois de Boulogne: uma parada obrigatória entre história e natureza

O Bois de Boulogne sintetiza a ideia de parque‑infraestrutura: saúde urbana (sombra, água, biodiversidade), cultura (museus, concertos, gastronomia) e esporte (trilhas, hipódromos) funcionando em rede com a cidade. É uma peça de urbanismo que respira, acolhe e educa — e que lembra, sem solenidade, que cuidar do verde é planejar o futuro da metrópole.

Guia rápido (planeje sem correria)

  • Quando ir: primavera e início do outono para floradas (especialmente em Bagatelle); verão para piqueniques e remos no Lac Inférieur; o ano todo para exposições na Fondation Louis Vuitton.
  • Como circular: priorize caminhada, bicicleta e barquinhos nos lagos; áreas extensas e vias sem carros convidam a roteiros longos.
  • Pontos‑âncora: Jardin d’Acclimatation, Fondation Louis Vuitton, Parc de Bagatelle, Serres d’Auteuil, ParisLongchamp/Auteuil.

Fonte: antena1

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