Playground adulto por excelência, bar é também mesa de trabalho: provar o “novo”, verificar equilíbrio, sabor, temperatura, textura, aroma, recipiente, coerência de uma receita. De vez em quando, até escrever. Agora, se for só para ser feliz em um balcão, peço um martini.
Seco, sujinho, salgadinho. Gelo? Não sou Frank Sinatra, então, apenas não. Pouco ortodoxa, a moda de botar pedra de gelo no rei dos coquetéis surgiu na década de 1960, nos Estados Unidos – e não pegou. Ainda assim, como acontece com a pochete, vira e mexe, reaparece.
Dois bares paulistanos acabam de embarcar nessa. A nova (e excelente!) carta do Tan Tan divide-se em três momentos etilicamente históricos (pré-Lei Seca americana, Prohibition Era e pós-Proibição) e, logo de cara, homenageia o dirty martini.
O Hello Suckers (vodca infusionada com lapsang souchong, tequila, pimenta-de-cheiro, picles de tomatinho e vermute branco, R$ 45) é um tributo do head bartender, Caio Carvalhaes, tanto ao clássico da coquetelaria, quanto à atriz Texas Guinan, rainha da noite e ícone da Proibição. Vem numa footed rocks (meio termo entre taça e copo baixo) com um baita gelo redondo no meio.
Nem doce, nem salgado, doce e salgado, profundo pelo defumado do chá chinês, o drink é pura provocação. O gelo, a maior delas. “É um coquetel que aceita diluição, tenta quebrar um pouco essa pancada do dirty martini e também acaba assumindo outros caráteres”, defende Caio.
50/50 Martini do Fifty Fifty, bar em Pinheiros Foto: Divulgação
Parece um fator desnecessário de ansiedade: você sabe que o gelo vai derreter e bebe rapidinho para evitar que o maravilhoso coquetel fique aguado. “É um ponto, né? Quando perguntavam ao Hemingway como ele gostava de tomar martini, ele respondia: rápido”, pondera o bartender, que jura de pés juntos curtir martini on the rocks.
Detalhe: ele não está sozinho. Duas ruas abaixo, os colegas Stephanie Marinkovic e Danilo Gomes Rodrigues servem a receita que dá nome a seu bar, o Fifty Fifty, em copo baixo com um cubão de gelo.
Metade gim, metade vermute, o martini 50/50 é menos seco e tem um teor alcoólico mais baixo que um dry ou um dirty: “É o nosso coquetel, eu e o Danilo sempre pedimos fifty/fifty em copo, com gelo. Tomamos com Beefeater London Dry e Noilly Prat”. Defendendo a posição, é assim que Stephanie apresenta sua versão (a R$ 52).
Ok, nem toda haste é confortável na mão, mas copo? A cada gole, você troca calor com o pobre do líquido. Sem contar que não pode ser à toa uma taça ser chamada de martini…
Com a elegância que lhe caracteriza, Caio explica que, via de regra, qualquer short cocktail pode vir em copo baixo. Normas à parte, não é sobre ter razão, é sobre ser feliz. A minha felicidade sem gelo, por favor.
Fifty Fifty Cocktail Bar
R. Dep. Lacerda Franco, 596, Vila Madalena. Ter. e qua. das 19h às 00h; qui. a sáb., das 19h às 02h; dom. das 18h às 00h. Tel.: (11) 2367-7239
Tan Tan
R. Fradique Coutinho, 153, Pinheiros. Ter. a dom., das 19h às 23h; sáb. também das 12h às 16h. Tel.: (11) 2373-3587
